DOIS POEMAS DE BARBARA GRILLO
- Marcia Rangel Candido
- 19 de jul. de 2018
- 2 min de leitura

Nesses anos
foi só o encontro com
o mar que me fez entender
o carinho da areia
quando como um favor engolia meus pés e me fez mesmo acreditar que os passos mais pesados aqueles quase afogados fazem parte desse ínfimo espetáculo onde toda imensidão ressurge no revoar de cada grânulo que antes me fez tropeçar mas que, agora, como uma onda me carrega indo e voltando exatamente para onde eu deveria estar e então você me pergunta se eu não deveria gritar aqui, de baixo, é difícil dizer mas acredito que com guelrás novas as coisas vão mudar porque daqui já não é possível falar mas as ondas agora como melodia me fazem acreditar que todas as canções de socorro estão bem aqui espero que escute o meu cantar seja como onda seja como maré alta espero que entenda, agora só posso habitar o mar.
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sabe-se lá
quais cobras habitam o sertão
mas se acaso fosse a minha porta
decifraria seus nomes
meus medos
conhecimentos que vem de antes
antes de mim mesma
das vozes ao redor
dos ventos que gelam o suor
é provável então
que minhas cobras habitem
o topo de minha cabeça
e como medusa
se deleitem ou
meu objetivo único seja
congelar esses momentos
dando basta à solidão.
vozes de meus algozes
só alimentam meus bichos
fazem crescer
mas não permito
que me cortem a cabeça
por isso olho
pro meu corpo, o corpo
de dentro do corpo
as vozes cessam
o vento agora
só pode se sentir
como melodia
minhas cobras morrerão
e minha voz
me faz ouvir
aquilo que agora é
meu canto
minha oração.
Barbara Grillo é cientista social, antropóloga em potencial - mestranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA - UFRJ). Gosta de escrever poemas nas horas vagas ou não.
Editora responsável: Marcia Rangel Candido