72 ANOS DA NAKBA: COMO A QUESTÃO DA PALESTINA NOS AJUDA A ENTENDER O MUNDO?
Foto tirada por Lara Sartorio Gonçalves, em 2014, na Vila Wadi Fukin, Palestina.
A Nakba é pedir os direitos que foram usurpados dos palestinos pelo movimento sionista no território palestino. Foi quando retiraram os povos nativos para colocarem os povos estrangeiros [1].
"A maior prisão a céu aberto do mundo", descreve Noam Chomsky e Eduardo Galeano complementa: "Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?". O dia 15 de maio de 1948 marca tragicamente a história da Palestina. Conhecida como "Nakba", que significa “catástrofe” em árabe, a data é relembrada todos os anos com protestos na Palestina e no mundo. Por se tratar de um passado não superado, as atrocidades não repousam no longínquo ano de 1948, mas são presentes todos os dias ao longo desses 72 anos.
No fim do século XIX, o movimento sionista [2] articulou a criação de um Estado que fosse judaico na Palestina, como resolução ao que se chamava "questão judaica". A Declaração de Balfour [3], emitida pelo Reino Unido, constituiu nesse processo a base jurídica das reivindicações dos sionistas na Palestina. O único obstáculo era o fato de este já ser um território povoado por uma maioria muçulmana e cristã árabe (FINKELSTEIN, 2005). A presença dos árabes palestinos não era ignorada pelos sionistas, dado que “desaparecer” com os árabes é uma ideia que está no centro do seu sonho, uma condição necessária de sua existência. [...] Com poucas exceções, nenhum dos sionistas contestava a conveniência de uma transferência forçada - ou sua moralidade", afirma o historiador israelense Tom Segev (citado em FINKELSTEIN, 2005: 15).
Em 15 de maio, um dia após a criação do Estado de Israel, mais de 750 mil palestinos, cerca de 80% da sua população total, foram vítimas de um massacre nas mãos de grupos paramilitares sionistas [4] e pelo recém-formado exército de Israel (SAID, 2011; PAPPÉ, 2006; FINKELSTEIN, 2005; ARENDT, 1973). Estima-se que aproximadamente 500 vilas foram totalmente destruídas e famílias foram arrancadas de suas casas e de suas terras. Os sobreviventes saíram em busca de refúgio. O processo de expansão colonial e de violência contra os palestinos tinha como objetivo principal a limpeza étnica.
O evento repercutiu de forma lastimável: a população palestina se espalhou, em uma diáspora que inclui 12,4 milhões de pessoas ao redor do mundo [5], além de cinco milhões de refugiados [6], segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, em inglês).
A Nakba marca uma inflexão na existência palestina que vem sendo atualizada desde então, com a ampliação dos recursos e estratégias mobilizadas para a prática rotinizada de violência. As faces atuais da ocupação israelense são uma construção contínua ao longo das últimas décadas, desde 1948. Com o risco de incorrer em um recorte insensível da trajetória de luta da Palestina, transitaremos por momentos marcantes ao longo desses 72 anos de maneira a compreender suas implicações no presente.
1967 e a colonização impune
Como aborda o historiador Ilan Pappé, os palestinos acordaram na Nakba em uma nova realidade geopolítica. O que conheciam como Palestina tinha sido destruído e substituído. Dois terços dessa população foi expulsa e sem o direito de retornar às suas casas. Os palestinos tornaram-se refugiados, ou cidadãos da Jordânia (para aqueles que estavam na Cisjordânia), ou sobreviventes sob regime militar egípcio, na Faixa de Gaza. Dos mais de um milhão de palestinos que viviam no território que passou a ser chamado Israel, apenas 160 mil permaneceram. A expansão colonial levada a cabo por Israel tomou lugar em uma região de histórico de lutas pela libertação e independência de processos colonial anteriores, provocando confrontos internos e tensões regionais.
O ano de 1967 marcou o estopim de uma tensão política entre Israel, Egito, Jordânia e Síria, que piorava significativamente. Até que em à primeira hora de 5 de junho, o exército israelense promoveu um ataque surpresa às bases aéreas do Egito na Península do Sinai, destruindo cerca de 90% da força aérea egípcia, culminando na Guerra dos Seis Dias. A partir de então, o exército sionista expandiu rapidamente as suas fronteiras e anexou toda a Faixa de Gaza e o Sinai ao seu território. Em seis dias também viria a anexar as colinas de Golã, Jerusalém Oriental, e toda a Cisjordânia. Israel derrotou todos os seus adversários e avançou como nunca em seus planos de anexação do que restava, então, da Palestina. Como resultado, o conflito contabilizou mais 350 mil novos refugiados palestinos.
A própria forma de anexação de territórios israelense pode ser entendida como um fenômeno arquitetônico, desde 1967 (EFRAT, 2008; NITZAN-SHIFTAN, 2004), que inclui primordialmente os projetos habitacionais do Estado dentro e no entorno de Jerusalém redefinindo, assim, a prática arquitetônica de Israel. Nesses termos, a estratégia territorial e demográfica israelense "opera impondo um complexo e compartimentalizado sistema de exclusão espacial, em que cada escala é dividida em dois" (WEIZMAN, 2007: 36/10). Nesse ano, em particular, a expansão desenfreada das fronteiras foi acompanhada de uma prática colonial expansiva por meio de lógica e de organização que permitem um rearranjo contínuo. A isso Weizman chamou de "geografia elástica". Segundo ele, o controle político de um espaço elástico é frequentemente mais perigoso e mortal que um espaço fixo e rígido.
A ocupação militar israelense inaugura, então, uma nova dinâmica da colonialidade do território palestino, denominada por Israel "convivência" entre os povos, o que incluía o amontoamento dos milhões de palestinos em territórios cada vez mais reduzidos. Esse processo foi acompanhado pelo avanço dos assentamentos de colonos e da organização própria da ocupação, pautados por dinâmicas de muros de separação, checkpoints, restrições de mobilidade, torres de vigilância, barreiras, bases militares, bloqueios, oclusões, zonas especiais de segurança, barricadas e áreas militares fechadas. A dinamicidade dessas fronteiras diz respeito ao seu constante deslocamento, ao transbordamento e à fluidez, de tal modo que essas se arrastam, cercando furtivamente as vilas e estradas palestinas, alcançando inclusive suas casas, salas, terraços (frequentemente invadidos e utilizados como local de mira estratégica na vizinhança, interrogatório, tortura e assassinatos).
Intifadas e Acordos de Oslo
A palavra Intifada, em árabe, possui um significado amplo, desde calafrios por temor ou doença, até um despertar abrupto, um estremecimento de um estado de inconsciência. E em 1987, foi o termo utilizado para designar o levante palestino contra a ocupação israelense. A historiadora palestina Ruayda afirmou que com a diáspora e as circunstâncias extremadas de violência, os palestinos espalhados tomaram um tempo para articular politicamente e, logo, coletivamente, a causa palestina. "Foi com os massacres nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no Líbano [7], que nos foi evidenciado que nenhum palestino poderia se dar ao luxo de viver tranquilamente". A trajetória da Palestina deve ser necessariamente retratada como resistência e engajamento na luta pelo direito ao retorno [8] às casas e vilas anteriores a 1948 e ao fim da ocupação israelense.
Em 1987, ocorreu a Primeira Intifada, que durou até 1993, por ocasião das negociações de paz entre Palestina e Israel. Nesse ano, foram assinados os Acordos de Oslo [8] entre o governo de Israel e a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), evento que deixou “os palestinos subordinados, tendo Israel tomado conta de Jerusalém Oriental, assentamentos, soberania e economia” (SAID, 2011:40). O acordo delegou a gestão da saúde, turismo, serviços postais, educação e saneamento para os palestinos. Por outro lado, a OLP concordou em manter Israel a cargo de suas fronteiras, da água e da segurança. Um arranjo curioso de dominação israelense e responsabilização palestina. Os temas mais espinhosos, como os direitos dos refugiados e o status de Jerusalém foram postergados.
Após os acordos de Oslo, a construção de assentamentos em território demarcado como palestino passou a ocorrer por métodos fraudulentos e ilegais, com o apoio e investimento do governo israelense [10]. Atualmente, há a persistência desse arranjo contínuo e intenso de construções.
A lógica desse modo de ocupação é a de uma "modificação irreversível" da disposição do espaço por meio do avanço sobre o que restou de território aos palestinos, tornando o problema de maior complexidade e de (cada vez mais) difícil solução. "Os colonos israelenses armados com frequência confrontam agricultores palestinos locais, violentamente expulsam-nos de suas terras e roubam sua produção" (WEIZMAN, 2007: 4). E, nesse termos, apoderam-se de extensões de terra progressivamente maiores.
A Segunda Intifada ocorreu em 2000, como resposta à sequência de descumprimentos dos acordos e aumento da violência colonial. O episódio que desencadeou o levante popular foi a visita de Ariel Sharon (parlamentar israelense e líder do Likud [11]) escoltado por militares à Esplanada das Mesquitas, local sagrado para os muçulmanos em Jerusalém. Ao mesmo tempo, com o amparo do recém eleito presidente americano George W. Bush (2001-2009), Israel iniciava a construção de um muro que anexaria mais terras palestinas (SAID, 2011).
Muro do Apartheid
Em 2002, a construção do muro foi anunciada oficialmente, ainda que com uma rota indefinida. A impressão que se tem ao chegar na Cisjordânia e deparar-se com o muro é a de que se trata de uma construção em andamento. Dois efeitos imediatos podem ser sentidos: o de que há um caráter de temporário naquela estrutura e o de que ainda se reserva possibilidade de remanejamento, alteração e expansão do projeto inicial. A ambição inicial de Sharon com o Muro previa a inclusão ilegal de 50% do território da Cisjordânia. A reação interna e externa fez do recuo por parte do governo israelense algo em aberto.
Em seu projeto original, o muro possuía 800 km de extensão, dos quais menos de 70% foram concluídos, com constantes alterações de rota e recortes do território. Como a triste história recente da Palestina demonstra, o muro foi acompanhado por inúmeras artimanhas de vigilância, controle e punição. "O muro de concreto de 8 metros de altura, cercas elétricas, arame farpado, radar, câmeras, trincheiras ocultas, postos de observação e estradas de patrulha – foram planejados e sequenciados pelo Departamento de Planejamento Regional e Estratégico de o Comando Central da IDF" [12] (WEIZMAN, 2007: 161).
Ainda que as restrições e as políticas de separação assinalem toda a Palestina, com frequência a imagem que vem à tona quando o assunto é enclausuramento é a da Faixa de Gaza. Não é casualidade. Em Gaza, a situação é agravada de forma alarmante. Nesse reduzido território, as restrições de movimento foram impostas logo após a Nakba. Na véspera da guerra de 1967, a catástrofe demográfica já despontava: o número de habitantes dobrou na região devido às famílias que foram expulsas de suas vilas em 1948 e lá se refugiaram. O território densamente povoado, cujas condições já eram precárias à época, possui graves problemas de estrutura econômica.
Os acordos de Oslo legitimaram a separação e a descontinuidade geográfica entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza e, como resultado, esta foi circundada por uma cerca elétrica em 1994. Ironicamente, a medida era parte do projeto de "paz" de Israel. Quando o processo de paz fracassou em 2000, Gaza foi transformada em um gueto, ou ainda, uma enorme prisão a céu aberto.
Com a saída das tropas israelenses de Gaza, em 2005, o local se tornou um laboratório de teste dos mais recentes armamentos. Gaza passou a ser um alvo militar na visão oficial de Israel: um inimigo desfeito de suas qualidades humanas a ser aniquilado. Como ressaltado em entrevista com Saad, palestino morador de Gaza, no topo de todas essas restrições veio o bloqueio como a experiência integral de confinamento em Gaza. Segundo Pappé e Chomsky, "As medidas de acompanhamento em 2006 foram os meios mais sinistros de garantir a prisão total do povo de Gaza por meio de boicotes e bloqueios, enquanto o mundo em geral permaneceu em silêncio" (PAPPÉ e CHOMSKY, 2010: 181)
"O que mais podemos perder?"
Toma nota!
Sou árabe
Tu saqueaste as vinhas dos meus pais
E a terra que eu cultivava
Eu e os meus filhos
Levaste-nos tudo exceto
Estas rochas
Para a sobrevivência dos meus netos
Mas o vosso governo vai também apoderar-se delas
… ao que dizem!
(Bilhete de Identidade, de Mahmoud Darwish - trad. Julio Magalhães)
Já são setenta e dois anos desde o início da submissão contínua sofrida pelos palestinos e palestinas à catastrófica Nakba. Nesse período, o exército israelense atualizou suas práticas, arquiteturas, tecnologias, territórios, armamentos e recursos para exercer a violência.
A dominação da Palestina por Israel, a conquista de seu território e a limpeza étnica em curso não deveria ser reduzido a uma disputa religiosa, como – apressadamente – alguns preferem indicar. Não é mero detalhe, por exemplo, que fronteiras abertas ou passagens ilegais de palestinos para os territórios ocupados sejam facilitadas como forma de garantir que a mão-de-obra barata chegue para os colonos. Mais de 20% dos empregados palestinos trabalham em Israel e em complexos de assentamentos ilegais construídos no território palestino [13].
Atualmente, o número de trabalhadores que se arriscam em oportunidades precárias de emprego em Israel já passa dos 40 mil. E no contexto de pandemia global do COVID-19, o governo israelense não somente abriu as suas fronteiras como também pressionou a Autoridade Nacional Palestina (ANP) a consentir o deslocamento dos trabalhadores. Com os números de casos confirmados da doença chegando a 16.734 mil e 281 morte em Israel, frente a 423 casos confirmados e 3 mortes na Palestina [14], Mahmoud Abbas, presidente da ANP, acredita que os casos de COVID-19 na Palestina são por transmissão dos trabalhadores que precisam trabalhar em Israel.
A palestina Ruayda Rabah nos conta:
Os anos de violência, bloqueio e domínio do exército israelense limitaram o acesso dos palestinos à educação e muitos operários vão trabalhar em Israel para não morrer de fome. Os palestinos são, para eles, uma subclasse e, por isso, são contratados em trabalhos que eles dizem não estar à altura de um israelense.
O uso oportunista da abertura e fechamento de fronteiras evidenciam a geografia elástica (WEIZMAN, 2007) do colonialismo israelense. É notável, nesse sentido, a estrutura de classes marcada por um viés colonial, além da configuração do espaço como instrumento de exclusão. Podemos dizer que esses elementos são componentes sociais em escala global, ainda que em diferentes graus. A Palestina passa a funcionar como laborário de significado estendido, dado que suas técnicas de dominação, bem como as de resistência a elas, se expandiram e se se multiplicaram no “presente colonial”, nos termos do geógrafo Derek Gregory (WEISMAN, 2007:10). O conflito Israel-Palestina passa a constituir, em larga medida, um esquema conceitual de propriedades que podem ser mobilizadas para entender outros problemas geopolíticos.
Com a inflexão global iniciada em 11 de setembro de 2011, George W. Bush anunciou que os Estados Unidos iam se lançar a um novo tipo de guerra, orientado à eliminação do adversário. Donald Rumsfeld, Secretário de Defesa do governo Bush, afirmou, nesse mesmo ano, que "as técnicas utilizadas pelos israelenses contra os palestinos podiam simplesmente ter a escala ampliada" (CHAMAYOU, 2015; WEIZMAN, 2007).
A lógica política subjacente, seja na construção dos muros, nas ocupações militares, nos encarceramentos em massa e assassinatos dos inimigos é sempre apresentada sob o discurso de defesa, por meio de seu clássico instrumento "medida de segurança". O objetivo não é punir, mas "preservar a sociedade contra o risco que ela corre com a presença de seres perigosos em seu seio". A tática da eliminação preventiva de indivíduos perigosos como garantia da segurança marca uma alteração importante de paradigmas de guerra. E a diferença, segundo Chamayou (2015), é quanto à forma de conceber o inimigo.
Na contrainsurgência, predominante até então, os insurgentes são considerados "representantes e reivindicações mais profundas no seio de uma sociedade, ao passo que no antiterrorismo, os inimigos são etiquetados de "terroristas" concebendo-os como "'indivíduos aberrantes', personalidades perigosas, ou pura encarnação do mal". "Nessa recategorização, os alvos já não são adversários políticos a serem combatidos, mas criminosos a serem apreendidos ou eliminados" (CHAMAYOU, 2015:81).
Desse modo, com a preeminência do antiterrorismo como doutrina, que passa a prevalecer sobre a contrainsurgência, o objetivo torna-se "eliminar com regularidade as ameaças emergentes, à maneira de uma colheita periódica". A estratégia de erradicação é, paradoxalmente, devotada não à eliminação, mas orientada por uma lógica de "guerra infinita", ou ainda, a existência de uma sociedade organizada a partir da noção de guerra. Reiteradamente, os discursos em torno da questão Israel-Palestina são apresentados como um conflito de solução impossível. O roteiro de guerras invencíveis marca, talvez, a própria noção de Estado contemporâneo, tornando todo e qualquer lugar um campo de batalha em latência.
As configurações dos territórios ocupados por Israel e a Palestina ensaiam precocemente a reestruturação e deslocamento da própria noção de campo de batalha, condicionando as cidades mesmas à lógica da guerra. Há, por um lado, o efeito mais visível, marcado por aquilo que pensamos como arquitetura da violência, definida a partir da lógica do "urban warfare" (WEIZMAN, 2007). E, por outro lado, a dimensão menos visível, que são os efeitos psíquicos, afetivos e relacionais.
Segundo Saad Ziada [15], em entrevista, esse é inclusive um momento de oportunidade global para que o laboratório executado na Cisjordânia e em Gaza – de onde ele fala – de confinamento, isolamento e separação, sejam experimentados em outras partes do globo como instrumento impulsionador de empatia e transformação. Ao ser indagado sobre a situação de Gaza na pandemia:
Talvez assim experimentem, em algum grau, o que é estar confinado por imposição. O mundo, por alguns meses; nós, em Gaza, há 14 anos. Eles roubaram nossa terra, nos tiraram o direito de ver nossa própria família separada por um muro. Eu, pessoalmente, passei por três guerras (em 2009, em 2012 e em 2014), fiquei preso por 8 meses em prisão israelense e perdi seis membros de minha família em bombardeio. O que mais podemos perder?.
O entrevistado ressalta ainda que os palestinos estão acostumados com a "punição, insegurança e imprevisibilidade", elementos tão caros às garantias do Estado no mundo moderno. "Temos que ser fortes e nos guiar pela esperança e não pelo medo", disse. Talvez seja esta uma mensagem necessário para deslocarmos a expectativa de quando retomaremos à “vida normal”, para como será efetivada a transição e a que modo de vida. O que queremos construir como concepção de normalidade?
NOTAS
[1] Entrevista com a palestina Ruayda Rabah, realizada no dia 20 de abril de 2020.
[2] Theodr Herzl fundou o sionismo moderno durante a década de 1880 na Europa central e do leste. Em seu livro, “O Estado Judeu”, trata de justificar a criação de um Estado para os judeus na Palestina em detrimento da população palestina nativa da região. O amadurecimento da discussão enquanto ideologia, levou o movimento a associar na prática o militarismo para defender a qualquer custo as colônias de judeus na Palestina (Ilan Pappé, 2006:15).
[3] Declaração anunciada em novembro de 1917 pelo governo britânico firmando compromisso com "avaliar favoravelmente o estabelecimento na Palestina de uma pátria para o povo judeu" (SAID, 2011: 18).
[4] A Haganah foi um grupo paramilitar criado em 1920 para proteger as colônias de judeus na Palestina. Foi o principal braço armado da Agência Judaica, que era o governo sionista na Palestina, e levou a cabo o projeto de limpeza étnica na Palestina (Ilan Pappé, The Ethnic Cleansing of Palestine, p.16).
[5] https://www.aljazeera.com/indepth/features/2017/05/nakba-start-1948-170522073908625.html
[6] https://www.unrwa.org/palestine-refugees
[7] Evento que ficou conhecido como Guerra do Líbano, de 1982.
[8] O direito ao retorno trata da reivindicação dos palestinos do direito de regressar às terras de onde foram expulsos, da Nakba de 1948 em diante.
[9] Mais informações sobre o evento podem ser encontradas no link: https://interactive.aljazeera.com/aje/palestineremix/the-price-of-oslo.html#/14
[10] "In the years following the 1993 signing of the first Oslo Accord, which was intended to mark the beginning of the end of the conflict over Palestine, it became increasingly difficult for Israeli settlers to obtain official permits to establish new settlements in the West Bank. As a result, settlers resorted to increasingly sophisticated methods of piracy to help the government - which, unofficially, was keen to see settlements established but could not be seen to be helping in their foundation - bypass its own laws and international commitments." (WEIZMAN, 2007)
[11] Partido politico de Israel que congrega as direitas moderada e conservadora. O atual. O primeiro-ministro de Israel, desde 2009, Benjamin Netanyahu, preside o partido.
[12] IDF é a sigla para as Forças de Defesa de Israel (Israel Defense Forces).
[13]https://www.aljazeera.com/news/2020/05/israel-temporarily-opens-crossings-palestinians-seeking-work-200503071628033.html
[14] Dados de 20 de maio de 2020. Fonte: Al Jazeera
[15] Entrevista concedida por Saad Ziada, palestino morador da Faixa de Gaza, por chamada de vídeo, no dia 22 de maio de 2020.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah (1973). The Origins of Totalitarism. New York: Hartcourt Brace Javanovich.
CHAMAYOU, Gregoire (2015). Teoria do Drone. São Paulo: Cosac Naify.
FINKELSTEIN, Norman G. (2005). Imagem e realidade do conflito Israel-Palestina, trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record.
GORNY, Yosef (1987). Zionism and the Arabs, 1882-1948. Ed Oxford.
PAPPÉ, Ilan (2007). The Ethnic Cleansing of Palestine. Oxford: Oneworld.
__________ (2011). The Forgotten Palestinians: A History of the Palestinians in Israel. Yale University Press New Haven And London.
PAPPÉ, Ilan; CHOMSKY, Noam (2010). Gaza in Crisis: Reflections on Israel’s War Agaisnt the Palestinians. Illinois: Haymarket Books Chicago.
SAID, Edward (2011). A questão da Palestina; trad. Sonia Midori. São Paulo: Editora Unesp.
____________ (2011). Peace and Its Discontents – Essays on Palestine in the Middle East Peace Process.
WEIZMAN, Eyal (2007). Hollow Land – Israel’s Architecture of Occupation. New York: Verso.
Lara Sartorio Gonçalves é cientista política graduada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), mestre e doutoranda em sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).
Eduardo Magaldi é bacharel em direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com intercâmbio em Estudos Árabes na Paris 3 – Sorbonne Nouvelle.
Como citar esse texto: SARTORIO GONÇALVES, Lara; MAGALDI, Eduardo. 72 anos da Nakba: como a questão da Palestina nos ajuda a entender o mundo?. Horizontes ao Sul. Disponível em: https://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/05/28/72-ANOS-DA-NAKBA-COMO-A-QUESTAO-DA-PALESTINA-NOS-AJUDA-A-ENTENDER-O-MUNDO
Editores responsáveis: Rafael Rezende e Simone Ribeiro Gomes